domingo, 4 de novembro de 2012

Língua Portuguesa e a interferência africana

Olá amigos!
Atendendo a um pedido especial, a coluna "Curiosidades" começa a tratar da influência das línguas africanas na língua portuguesa falada no Brasil.
Espero conseguir provocar em cada um de vocês, ao menos um pouco de vontade em aperfeiçoar seus estudos em Linguística. Vamos descobrir um pouco mais sobre nossas origens?


Entre os séculos XVI e XIX, foram trazidos para o Brasil cerca de 4 a 5 milhões de escravos africanos. Apenas a região de banto, de onde vieram grande número desses escravos, era formada por 21 países com aproximadamente 300 línguas bastante semelhantes entre si.
Dentre essas línguas, as mais faladas no Brasil foram o quicongo, originário da República Popular do Congo, na República Democrática do Congo e no norte de Angola; o quimbundo, falado na região central de Angola e o umbundo, falado no sul de Angola e em Zâmbia.
Tivemos por aqui outras línguas chamadas "sudanesas", dentre as quais, as maism importantes foram as línguas da família kwa, faladas no Golfo do Benin, cujos principais representantes foram os iorubás e os povos ewe-fon, apelidados pelo tráfico de "minas" ou "jejes".
O iorubá é uma língua única, constituída por um grupo concentrado no sudoeste da Nigéria e no antigo Reino de queto (Ketu). Hoje no Benin, são chamados de nagô, denominação atribuída aos iorubás no Brasil.
O ewe-fon é um conjunto de línguas (mina, ewe, gun, fon, mahi) muito parecidas e faladas nos territórios de Gana, Benin e Togo. A língua fon é majoritária na região e é falada pelos fons ou daomeanos, concentrados no planalto central de abomé, capital do antigo Reino de Daomé, atual Benin.
Toda essa diversidade linguística possui uma origem comum, a família linguística Níger-Congo, o que as torna "parentes" e igualmente importantes.
No Brasil, o isolamento social e territorial imposto por Portugal com relaçãom ao comércio externo brasileiro até 1808, provocou um conservadorismo, um ambiente mais aberto à aceitação de valores sociais e culturais internos. Aqui podemos dar como exemplo, a atuação socializadora da mulher negra no seio da família colonial e o processo de socialização linguística exercido pelos negros ladinos junto aos escravos.
Ladinos eram negros que, desde cedo, aprendiam a falar vocábulos da língua portuguesa e com isso, podiam participar de duas comunidades sócio-linguísticas diferenciadas: a casa grande e a senzala. Bilíngues, deram origem ao dito popular "diante de ladino, melhor ficar calado", pois atuavam como uma espécie de "leva-e-trás", pois eram capazes de ouvir e compreender um maior número de vocábulos, e de falar a um número maior de ouvintes, influenciando-os e interferindo na tradução do diálogo.
A mulher negra, fundamental na rotina da casa grande, exercia várias funções, dentre elas a de "mãe preta", onde tinha a oportunidade de interagir no ambiente doméstico, interferindo nos hábitos alimentares e até mesmo na educação das crianças, através de socialização linguística e inserindo componentes do seu universo cultural e emocional, tais quais contos populares, cantigas de ninar, seres fantásticos (ex. boi-de-cara-preta), expressões de afeto (ex. dengo, xodó), crenças e supertições (ex. homem-do-saco).
Em meu próximo texto, continuaremos a falar sobre as línguas africanas no Brasil.
Aguardem!

Dulce Sales

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